Tifli Camarada Camarão

Pichação no Rio de Janeiro

Tifli camarada Camarão

Roda Cultural

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Minhas viagens pela terra amada



Minhas viagens curtas pela cidade de Saquarema. Logo percebo que meu olhar mais aguçado estava à procura de algo que me impressionasse, e que me aguçasse as iniciativas da escrita.
Ao longo da viagem não percebi a tão sonhada diferença, o que me faria saltar os olhos.
Quase no final da viagem, como um bom estudante de sociologia não desanimei com minha investida.
Ao pegar o ônibus e retornar para casa, as relações que se processam num universo em que os indivíduos são lesados e por isso, procuram seus direitos ocorreu no meio da viagem.
Ao dar duas voltas quase que sem necessidade no entorno da cidade o motorista recebeu os votos de indignação de alguns passageiros, principalmente uma mulher de aproximadamente 50 anos. Segue a insatisfação da referida mulher....

Fala da mulher: “Nós não somos otários motorista, e nem cachorros.”
Fala de outra mulher que acompanhava a primeira: “É isso mesmo não somos cachorros.”
Fala da primeira mulher: “Querem nos fazer de ratos, mas nós não queremos”
Segue a última: “O prefeito quer fazer obras para turista ver, e não para a população de Saquarema.”
O saldo dessa discussão, uma mulher enfurecida lutando pelos seus direitos, um motorista sem ter o que fazer, pois estava obedecendo a ordens, eu seguindo meu percurso de viagem, e as melhorias no transporte público de Saquarema não chegara até aquele referido momento.

Wagner Maia.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os Códigos Que Se Ver Pelas Calçadas.


Minha caminhada pela cidade metropolitana e na busca pelos códigos nela estampados. Nas placas de sinais de trânsito, vejo que hora posso seguir que hora devo permanecer parado.

Pelas calçadas, vejo as placas de sinalizações que indicam quais ruas, estabelecimentos e outros pontos diferentes que nos torna mais eficientes nos destinos procurados.
Nas placas das universidades, tenho a noção se é pública ou privada, de boa ou má qualidade, se tem professores reconhecidos ou nem tanto. Os códigos servem para esconder as reais situações engendradas nesses ambientes.  
  
Os códigos são expressões de uma sociedade cada vez mais manipuladas pelos enigmas que escondem um amplo conteúdo desses possuidores de códigos.

No entanto, há de se dizer que possuem códigos que devem ser combatidos. Esses códigos variam de tempo em tempo. Fora o grafite nas décadas passadas, assim com a capoeira no século XIX. Hoje se têm como combate a pichação.
Os motivos desses combates estão na relação de depredação do patrimônio público, ou e do privado. 



Esses códigos mais do que sujarem a cidade, a transforma numa caverna do século XXI. Pois bem, traçar-se-á as contribuições desses códigos que a todo o momento tentam combater uma ditadura da estética da beleza, estampada em suas marcas e sensações de insuficiência da população em usufruir dos códigos naturais da cidade.

As pichações mais do que fugir desses códigos, criam novos códigos que muitos desses podem ser entendidos pelo público exterior, outros de cunho extremamente de entendimento dos pichadores.

Mais do que fugir dessa estética, é dar possibilidade de vermos novas estéticas expressadas pela cidade e seus arredores.

A cidade precisa saber conviver com seus códigos que nada mais são que as complexidades de sua existência, mais do que material, escondem as contradições simbólicas das relações sociais de hierarquias.








Wagner Maia da Costa

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Entre o Público e o Privado.


Hoje acordei pensando que os setores públicos fossem melhores que os privados.
Pobre homem que seu idealismo já extrapola todas as relações de desigualdades na sociedade. Pensa que estas, podem ser desfeitas.
Há rica desigualdade, é você que transforma os laços de solidariedade numa relação de correlação de forças.
As estruturas de hierarquias, presentes nas mais calmas das facetas da sociedade, está a cada momento crescendo e nos tornando indivíduos escrupulosos.
Pobres setores da saúde, transporte, educação, que não recebem seus investimentos a altura, ou uma vez recebendo seus gestores tratam de usufruir as mais perversas formas ilícitas.
Crianças, jovens, idosos, a que os restam, é uma tentativa de questionamento, onde muitas das vezes são inquietadas pelos grandes gestores de comunicação.
Aos povos dos setores periféricos, os resta uma exclusão de cunho extremamente perverso, e que os setores da alta elite acham perfeito colocar essas populações em constantes estigmas.
Há pobres populações... Há pobres populações... Há pobres populações. Lamentamos ou lutaremos contra essas atrocidades... Há pobres populações...     

Wagner Maia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

As favelas e Suas Representações!

As favelas não precisam tentar copiar as manifestações burguesas que vem ocorrendo na Cidade e no País como todo, para se fazer representada no noticiário dos grandes tele jornais, ou até mesmo nas redes sociais.

Sua luta por si só, já é de extrema relevância para toda sociedade, mesmo que boa parte dessa última não reconhece a favela como local de múltiplas representações de protestos, manifestações culturais e divulgação de seus pontos de cultura, etc.

As favelas, muito mais do que se fazerem representadas através das cópias, tem que servir como um amplo campo de trabalho pedagógico de conscientização contra essa sociedade conflagrada, em que cada vez mais tendem a se mostrar um cenário de banalização das questões sociais mais relevantes da sociedade.

As redes sociais cujo venho criticando pela sua margem superficial das relevâncias sociais, tendem a mostrar alguns cenários como civilizados, que outrora fora considerados um submundo dos anormais. O câncer parece ter desaparecido como num ato religioso cuja as orações parecem fazer mais efeito do que a realidade em si.

As realidades que venho acompanhando das favelas cariocas pouco têm-se mudado nas questões de reformas significativas. Nas enchentes, as favelas são as mais prejudicadas, na educação os jovens, crianças e adultos não se fazem representados por uma educação hierarquizada.

Os códigos de uma mudança social, travestidos em pseudo práticas sociais, estão calando uma revolta popular, mesmo que resumida em poucos indivíduos em algumas situações, que sempre estiveram presentes nos questionamentos por mudanças.


O trabalho que venho ratificando como de extrema importância par a cidade, parece ser diferenciado 360 graus do estipulado no cenário atual da Cidade do Rio de Janeiro. As futuras gerações possivelmente, sofrerão as consequências do fazer de agora, que visa certas estratégicas para um conjunto de empreendimentos num futuro próximo.

O trabalho pedagógico, é permanente e tem que ser permanente, como num combate a homofobia, racismo, preconceito étnico, religioso entre outros. A favela e o restante da cidade, tem que está numa arena política de igual debate crítico, não se fazendo mazelas e feudos privilegiados. O privilégio torna os indivíduos, atores fracos no combate a desigualdade e descriminação social. Ao invés de serem atores privilegiados, temos que ser atuantes no combate ao privilégio e outras mazelas da sociedade.


Wagner Maia da Costa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma Cidade limpa, longe do Vandalismo! A onde se Encaixa a Pichação?

Uma Cidade limpa.

Muito tem se falado da cidade do Rio de Janeiro como a cidade limpa, longe do estigma de outrora, com suas representações de sujeiras nas paredes dos monumentos e de outras regiões de previlégios da cidade.

A cidade passa por reconfigurações da estética urbana, em que não abarca algumas manifestações artísticas. Muitas, são vistas como mero comboio de vandalismo, e por assim dizer, tem que ser combatidas. Por conseguinte, a pichação enquadra-se nesse estigma, esta é vista como depredação do patrimônio público e do privado. Dotados de uma ampla capacidade de adrenalina, os pichadores estão a todo momento expressando seus códigos pela cidade.

Entretanto, a mesma no os ver de forma satisfatória, seja por puro preconceito, ou por não conhecer as mensagens que esses, geralmente jovens querem passar.

Na conduta da cultura de rua, que outrora fora tratada com extrema repressão e preconceito, vem tentando romper barreira dentro de uma cidade altamente hierarquizada. As dimensões da estética na cidade metropolitana, possuem suas regras restritas que devem ser obedecidas por sua população. Os códigos dos pichadores no entanto, foge dessa regra, se constituindo em um bem comum ao universo de seus iguais. Longe da dita cidade limpa.

Porém, pensando quanto manifestação artística, essa deve ter total liberdade de manifestação cultural, muito pelo contrário que pensam da pichação de não ter seus limites e códigos implícitos e explícitos, ela é formada por uma estrutura bem significativa em questão de ir contra os dogmas posto na sociedade.

As inúmeras repressões que sempre fizeram parte do aparelho policial no Rio de Janeiro, tende a crescer na medida em que essa revitalização começa a dar seus primeiros passos. A intensificação no combate a pichação e outros grupos de arte popular, está dentro de uma lógica da cidade vendível, mesmo que no seu interior, a mesma guarda um complexo campo de estigma e segregações.

O não entendimento dessas manifestações, já está subjugado como o entendimento da mesma como mero vandalismo, e que deve ser combatido. Parto da perspectiva, que a pichação é mais uma forma de manifestação cultural, e que como todas as de mais guarda seus códigos e sua beleza, que não necessariamente está alocada na questão da estética. Esta última, é só um meio de quem detém o poder da proliferação da arte, lidar com esse campo heterogênio de manifestações culturais.

Wagner Maia de Costa...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Etnia Invisível...

Por Wagner Maia




Se vir os cadáveres caindo pelo chão... não digas que todos são de uma mesma etnia.

Se olhares as perfurações pelas paredes, elas têm um escorredor que esbafori toda uma gente que não se ver representada,

As porcentagens são desiguais.... As chances de sobreviver são a todo o momento recalculadas pelos grandes estatísticos.

Minha cor não me deixa dormir, até já pensei que fosse minha culpa.... Viver parece ser a coisa mais difícil de se conseguir.

Por muito tempo, ficaste preso num porão que as dimensões quase que surreais.

Meu corpo às vezes tratado como objeto, outras como mercadoria descartável.

Só por hoje, tive um sonho surreal de não fazer diferença meu excesso de melanina...

Só por hoje, sonhaste que uma simples palavra não signifique sofrimento.

Os grandes carros que da mesma cor que tenho, sobe com homens vestidos com a mesma cor que tenho, dilaceram gente da mesma cor que tenho...

Pobre homem, que num passo descontrolado, cai sobre as valas que navegam suas impurezas que há muito não foram tampadas...

Os grandes senhores de ternos com alguns intervalos no tempo, andas pelas valas abertas..

Só por hoje, pensaste que uma simples lei que há quase dois séculos fizera, fosse significativa.

Se não sou ouvido, meu cadáver serve como culpabilidade de uma sociedade perdida.

Os grandes verniz que sujam as ruas das grandes ruelas e becos... só por hoje tiveste nome.

Sou Chico, Maria, Denis, Júnior, Rafael, Leandro, Tatiana, Juliana, Carolina, Robson, Carlos, Willian... somos dignos e merecemos ser contabilizados como gente.

Meu gênero somado a minha cor, me deixa no submundo dos marginais.

Há décadas sou espancada por quem sofre junto comigo, um oprimido sendo opressor.

Os excessos de bebidas destiladas, me dar força de só por hoje ser um gigante... pobre homem.

Só por hoje, minha cor é devastada por um vírus que cresce em condições aritméticas.

O grande navio que carregara minha gente permanece vivo em cada coração, que hoje sobrevive nas áreas mais conflagradas...

Hoje sou negro, branco, pardo, amarelo... que seja, só clamo por justiça, por dignidade, igualdade... só por hoje quero viver mais um dia... só por hoje... só por hoje...

A Cidade das Remoções

Por Wagner Maia.

Deixastes os meninos dormirem, cumpro mais um dia de batalha... Em poucos minutos o corpo entra em transe, o físico não aguenta mais, precisa de descanso.

Na batalha do sono, vem o encanto do sonho. Já em estado de êxtase, volto a pensar na cidade perfeita.

Nesta os indivíduos possuem minimamente suas casas... Não se trata das grandes caixas quadradas e suas friezas de porta em porta...

Os moradores convivem na mais perfeita sincronia, a humildade parece ser o ponto forte dessa cidade.

Uma cidade, que os mais humildes mesmo que suas oportunidades estejam distantes, surge acolhimento.

A cidade não possui suas áreas privilegiadas com seus metros quadrados e seus preços surreais.. Qualquer indivíduo pode comprar sua casa, pois o preço é simbólico, e não há mais valia.

Essa cidade não é para poucos e sim para todos, o lugar não é um lugar privilegiado com seus feudos privilegiados... É um espaço de todos que se resume em muitos...

Que pena, já são quatro horas da manhã, hora de ir trabalhar, o relógio é mais teimoso que meu sono, apita descontroladamente... A promessa é de uma oportunidade de emprego.

Antes do raiar sol, sigo rumo a felicidade ilusória... Hoje minha prefeitura está fazendo caridade e colocando alguns pobres coitados a removerem outros pobres coitados

Não posso desistir, meus filhos precisam dessa migalha de pão... Na primeira remoção, vejo que mundo vivo, uma irmã de cor, que contabiliza seu oitavo filho no colo..

Com o despejo, serão mais nove cadáveres rondando pela cidade. Esta baronesa da pobreza é quem cuida da casa... Seu parceiro cortara laços toda vez que a mesma ganha filho.

Acostumada com despejo, a penas lamenta por mais uma perda... Meus olhos por mais que tentam disfarçar, não sustentam as lágrimas guardadas por muito tempo...

Os homens dos canudos, despejam sem pudor, apenas dar a cartada final...

Na sua humilde fala, que na concordância verbal já não significara muito naquele momento, exclama em minha direção... “Porque choras, a penas faça seu dever.”

Meu dever é fazer minha cor sofrer. Sofre porque tenhas minha cor.. Sofre porque não existe casa para minha cor. Sofrer porque nem todos merecem viver... Sofre porque minha cor quer viver.

No fim do dia, contabilizo a vigésima remoção, dezenove é da minha cor, uma é da cor dos primeiros habitantes dessa terra...

Como chego em casa e olho para meus filhos? Pois, estes podem ser os próximos...

Sinto-me envergonhado do papel que fizestes hoje. Mal janto e vou dormir cedo, quero voltar a sonhar, pois minha realidade é um pesadelo...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Ponta de Uma Contradição Profunda. Criminalização da Pobreza.

Por Wagner Maia da Costa


O Rio de Janeiro vem passando por transformações jamais vistas em questão do tratamento da violência, o mais recente diagnóstico de uma possível luta contra a criminalidade, foi à ocupação do território de uma das favelas mais populosa do Brasil, (Rocinha). Em quatro horas, foi tomado o território, que segundo as autoridades da segurança pública estava conflagrado há várias décadas. Num passar de olhos os problemas da favela se reverteram em uma entrega da comunidade para sua população.

Ainda para as autoridades, esta é só mais uma comunidade no total de 40 até 2014, que serão ocupadas. “Beltrame diz que meta de instalar 40 UPPs no Rio de Janeiro está mantida” (http://jconline.ne10.uol.com.br/) As alegações são a de que não adianta só chegar a polícia nesses locais, é necessário implantação de serviços básicos, e isso as grandes empresas estão fazendo muito bem. Ao serem ocupados esses territórios, são impregnados de empresas telefônicas, de internet, e recomposição da rede elétrica, que segundo as autoridades são de extrema importância. Não me desfazendo da importância dos mesmos, me ancoro num projeto de cidade que abarca uma rede de beneficio que vai muito além de um simples colocar de internet.

Os problemas das comunidades, parecem se encerrar com a entrada da polícia, da noite para o dia, as escolas voltam a funcionar com a mais perfeita potência, a saúde ganha um amplo reforço com uma miragem de construção de hospitais. A Cidade do Rio de Janeiro, parece caminhar para uma grande evolução rumo a civilização, as populações ditas sub humanas, são adestradas a se colocar no seu devido lugar, na margem das áreas mais ricas, e em baixo das rédeas dos grandes fuzis que nas mãos dos policiais faz representar a ordem. O toque de recolher em algumas comunidades, demonstra o poder bélico e da ditadura que uma localidade em pleno século XXI pode conviver. “As humilhações como: tapas nos rostos, xingamentos, espancamentos e até ameaças de mortes, não são nem um grão de areia da opressão que o tráfico fazia”, essas afirmações que encontramos bastantes recorrentes nas redes sociais tais como: Fecebook, twitter, Orkut etc. Os defensores alegam que as comunidades estão livres da opressão.

O tráfico sempre foi um componente essencial dos governantes, que ao longo das décadas oprimiram as favelas e as regiões periféricas da cidade. O intuito dos mesmos era de acabar com um mal que crescera como um câncer, que através de sua mitose encontra uma proliferação quase que desenfreada. A quimioterapia, se dá com o enfrentamento dos policiais contra o dito poder paralelo (tráfico). No entanto, a ocupação recente das favelas, vem se dando numa repleta harmonia entre traficantes e autoridades governantes. O anúncio das ocupações vem muito antes das mesmas serem ocupadas, e dependendo do local não há um tiro se quer. Isso não quer dizer que estamos tratando o enfrentamento melhor que o afastamento dos ditos (bandos), o que se alega é à saída de alguns desses homens para outras localidades e a permanência de alguns na mesma localidade onde tinham o poder. O tráfico continuará com suas raízes ao longo da cidade.

O grande espetáculo, se dá com uma intensa cobertura das mais prestigiadas emissoras de televisão e outros instrumentos de comunicação de massa. Os jornalistas, ao entrarem pela primeira vez num território “livre”, vão a caça dos mais calados moradores. O medo de falar, está estampado em cada rosto que ao saírem de uma opressão, acabam em uma ditadura dos policiais.

O grande projeto das ocupações e remoções de algumas localidades, atendem um amplo projeto de cidade vendível. Os grandes empresários, montam seus conglomerados, a fim de obterem um lucro com a valorização da cidade. As localidades e seu entorno estão sofrendo um surto de super valorização, isso faz com que as casas fiquem muito mais caras, e a condições de sobrevivência, fica cada vez mais difícil . Os grandes eventos que estão a caminho (Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Olimpíadas 2016), têm que ter uma proteção, bem significativa para alocação dos turistas e esportistas do mundo inteiro. As favelas que estão sendo ocupadas, atendem todos os requisitos, a maioria encontra-se na Zona Sul da cidade e quando não nessa área, terá grande importância para os jogos, é o caso de algumas localidades na Zona Norte, e Zona Oeste.

As mudanças que vem sendo feitas na cidade, estão prezas numa lógica de criminalização da pobreza. Para que os grandes projetos sejam bem executados, é necessário que os pobres estejam num lugar estratégico na cidade, a mesma não é para todos num olhar único, seus espaços tem ocupações diferenciados. A percepção dos pobres que seu lugar, é em torno de sua favela, ou área periférica, tem que ser a todo o momento alertado pelos meios de comunicação. Uma fez sendo desrespeitada essa lógica, o indivíduo será severamente punido. Assim os moradores convivem num julgamento antes mesmo de cometerem, ou não qualquer ação que é considerada crime. O criminoso na Cidade do Rio, tem cara, cor e localidade. Os moradores dessas áreas atendem todos esses requisitos. As autoridades tem que reprimi-los e tornar a cidade mais segura. Criminalizá-los, é atender uma lógica que vai muito além de um jogo político regional, abarca um projeto que tem suas raízes para além do país.

Todo esse jogo de criminalização dos pobres, é camuflado pelo enfrentamento do tráfico. Este último, a pesar de ser a ponta de uma contradição bem mais profunda das complexas relações da violência urbana. Afastar o tráfico das regiões mais privilegiadas da cidade, é dizer que está afastando um mal, que assola as favelas e áreas dos grandes eventos. Os outros problemas como educação, saúde, saneamento básico etc, fica para próxima ocupação, que sabe lá quando chega, pois o melhor os governantes estão conseguindo, uma aprovação para criminalização dos pobres e da pobreza.

Uma Cidade das Oportunidades.

Minha cidade perfeita, é repleta de oportunidades de empregos, pontos culturais, lazer entre outros serviços que deixa a população navegar na mais perfeita das nuvens floridas.
Ao sair de casa, encontro vários postos de trabalhos, nessa cidade as pessoas são servidas em casa com propostas irrecusáveis, pois, nesses trabalhos, o trabalhador não é escravizado, sua palavra tem tanto valor quanto a do patrão.

Os salários, não são exorbitantes no que se imagina em níveis de diferenças. Os patrões sentam com seus empregados que mencionam como acham que deveria ser o dia-dia do trabalhador.
Os pontos de lazer não têm uma estreita separação entre classes. As praças são para todos. Os cinemas atendem as populações mais carentes, quando não tem dinheiro entram de graça, quando tem , dá um valor simbólico.

Os pontos culturais se perdem em abundância. Os atores representam um olhar que afloras as imaginações da população.

As grandes tragédias são interpretadas como grandes feitos que não marcam, mas sim devem ser superadas. Os filmes já não mostram suas ideologias perversas.
Os ventos fortes batem na minha humilde janela de madeira, que num passar de olhos acordo no meu mundo de ilusão.

Um mês sem empregos sigo minha caminhada a fim de encontrar esse bem, que tanto me faz chorar. Já na minha vigésima procura, não tenho mais expectativa de encontra-lo.

Ao sair de casa antes do nascer do sol, mal vejo meus sete filhos, que choram clamando por comida, se desesperam a fim de chegarem na escola para comer a única e humilde refeição do dia.
De posto em posto minha cor parece ser um fator de repleto julgamento de minha possível deficiência, minha região de moradia me tira qualquer possibilidade de ser aceito.
A pós um dia de procura, tento levar meus filhos para brincar nas praças para esquecerem do mundo de tristezas que são obrigados a estarem.

Nas praças, as crianças são divididas por cor, os brinquedos como se fossem desinfetados não são para todos. As mais humildes e que a melanina chegou em abundância são julgados como impuros.
Choro pois meus filhos se enquadram nesse jogo. Meu desespero me dar força para superar essa realidade. Mal espero que chegue a noite, assim eu volto a dormir e sonhar com minha cidade perfeita.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cidade Perfeita

Ao acordar percebeste que estava na cidade perfeita.

Os soldados já não exacerbam com suas forças extremas para lidar com o povo.

Nas veias percebi que o sangue, circulava na mais perfeita sincronia.

O café já feito no bule, as migalhas de pão se transformaram na mais perfeita torrada.

Ao sair de casa o transporte como nunca, andas de vento em popa, os trocadores e motoristas, dialogavam com os passageiros na mais perfeita alegria.

Os jornais já não mostram mais suas ideologias perversas, que manipulam o povo com mais perfeita das ironias.

As televisões por um dia, não mostram cadáveres pelo chão, muito pelo contrário, dá voz aos mais carentes, além de deixar os mesmos darem seus depoimentos.

As almas penadas que inalam seus demônios de cada dia, se libertaram de um mal que provavelmente os dilaceram em dez segundos.

As forças de paz, só por hoje não tomam o poder através das guerras.

Os homens que são responsáveis pela pobreza, hoje lutam contra essa doença que só faz crescer nas margens das grandes cidades.

As crianças depois de um dia perfeito nas escolas, voltam para casa na mais perfeita tranquilidade.

Os maridos esperando suas mulheres voltarem do trabalho, e as mesmas fazendo com que o dia de hoje passe na mais vagarosa tranquilidade.

O mundo caminha na mais perfeita alocação de um por do sol perfeito.

O brilho das águas já não enche mais as casas de humildes moradores, que nas vésperas do verão choram por transformação. Hoje o poder público aparece na mais perfeita harmonia.

Hoje negros/ homossexuais entre outros, já não sofrem mais agressões e nem discriminação.

Essa cidade perfeita, pelo menos existe no subconsciente do mais humilde indivíduo solitário.

Num surto quase que desenfreado, acordo na mais perfeita sincronia, com tiroteios ao redor do meu lar.

Não me dando conta das dimensões que meu subconsciente tinha chegado de uma cidade perfeita, que se desespera na chegada da possibilidade da realidade.

Meu café não tem o açúcar de outrora. O pão já não se encontra na humilde vasilha, os condutores dos ônibus não falam com os passageiros, as crianças não vão para as escolas, e os governantes não chegam para lutarem contra a pobreza.

Aos poucos, percebo que esse mundo de realidade, é bem menos real que meus sonhos de uma cidade perfeita. A perfeição está no meu subconsciente, que a todo o momento quer fazer dos sonhos a realidade.

Minha realidade hoje chora com os cadáveres pelo chão das mais humildes favelas.

Hoje minha cidade chora por não ter saúde, educação, segurança, pontos culturais. Todos choram pelo mal que só faz crescer as revoltas populares.

Mas, tudo é camuflado nas mais perversas das mídias, e seus ancoras que nas bordas de seus lábios expressam seus sorrisos de satisfação pela contenção dos mais humildes dos inocentes.

Assim, a cidade de hoje é perversa, sem graça, genocida e formadora das mais horríveis degradações dos seres humanos. Hoje clamo pela volta dos meus sonhos que pelo menos no meu subconsciente ver um mundo perfeito, uma cidade ideal.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Nós como Objeto, Eles Quanto Doutores!

Nossa viagem de longa duração, mas num pequeno percurso. Hoje, eu e meu amigo de curso e de boa discussão Valdean, fomos ao morro Santa Marta, a fim de assistir um curso ministrado pelo próprio Valdean sobre a construção de Blogs.

Os processos de aprendizagem se davam a todo o momento, e de via de regras, tanto eu quanto o Valdean, pelo menos no que penso aprendemos muito mais com os alunos, do que ensinamos com nossa carga excessiva de leituras acadêmicas.

Os alunos se desprendiam da timidez e falava o que pensavam sobre a comunidade, as discussões se processavam na mais perfeita sabedoria de moradores da localidade. Com o processo de aprendizagem do bolg, surgiu a primeira postagem do então criado blog (Blog Nossa Opinião).

Ao serem perguntados pelo Valdean sobre a referida primeira postagem, foi quase que unânime a resposta sobre a reunião que ocorrerá no dia 11/11/2011, sobre as possíveis remoções que ocorrerá na favela. Os alunos com mais sabedoria que nos dois juntos, diziam que a remoção de algumas casas no alto do morro irá ocorrer, e por isso, era superimportante discutirem sobre o assunto.

A autoridade para falar sobre o mesmo sai com grande facilidade e com um tom de possível revolta, achavam que deveria escrever sobre o assunto. Infelizmente por ser a primeira aula, não tivemos como prosseguir na discussão, mas tive a impressão de que eles sabiam muito mais sobre favela ou pelo menos sobre o Santa Marta do que nos dois juntos

Ao sairmos do Morro percebemos que temos muito mais a aprendem do que ensinar. No nosso percurso de volta para casa, fomos contemplados com um grafite que logo me chamou atenção. Ao tirar uma foto, fui seguido pelo meu amigo Valdean. Guardamo-las como um complemento de aprendizagem que tivemos num dia em que os acadêmicos viraram objetos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Minha linda Saquarema! Os ventos que me trazem num presente argiloso.


Se já não há vejo como antes, é porque perdi o encanto de um homem do interior.

Se meus olhos enxergam para além de uma dimensão física, é por que não tenho mais a sensibilidade de antes.

Minha Saquarema de outrora, não está mais no coração de um homem que se acostuma com a vida corrida.

O banhar dos mares e o por do sol esplendido, agora vivi numa repleta separação entre privilegiados e os que privilegia.

A dor e a solidão, fazem parte de um cenário, vivo e atrofiador dos sonhos dos mais humildes dos interioranos.

Há quem diga que esse novo universo é bom, pois traz novas perspectivas de vida.

Mas há quem exclama, que através desse, perde-se muito dos sonhos que no passado era mais real que a própria realidade.

Hoje, preso num mundo de total inércia, pedi-se que o amanhã seja menos pior que o hoje.

Ontem pedia-se que o hoje fosse menos pior que o até então ontem.

O amanhã será uma incógnita que só será resolvida depois do meia noite de hoje.

Os ventos que me trazem para uma vida corrida, são os mesmos que me levavam para um mundo calmo.

Mas minha vida calma de outrora, não é a mesma que a aceleração dos absurdos que vejo hoje.

Faço parte desse cenário de ventos fortes e marés fracas, que me leva lentamente para uma solidão profunda dos mais rasos dos mares.

As espécies que admiramos são as que mais mata no presente momento. O homem é o medo de qualquer animal irracional, que raciocina mais que qualquer homem racional .

Mas que pena que percebo hoje que esse mundo não é de fantasia, e que minha Saquarema de outrora já não é mais vista de uma maneira romântica.

Apesar de achá-la a mais bela de todos os por do sol.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Entendimento da Vida!

O entendimento da vida que nos traz muito mais tristezas que alegrias, nos aniquila nas ações futuras que pretender-se íamos tomar.

Não entendê-la, nos coloca num vazio quase que irrefreável, por outro lado, tentar entendê-la nos aprisiona numa sequência de mentiras-verdades que nos faz sofrer demais.

A vida que no extenso do submundo dos desesperados, nos coloca em iguais patamares aos escrupulosos sonhadores de um mundo desigual.

Se meus amores não correspondem a minha altura de ações, os qualificos como elementos a serem esquecidos pelo meu subconsciente.

Mesmo que as lembranças de um passado remoto, está a todo momento sendo construída no presente.

Minha ignorância desperta as mais sinceras reprovações dos que estão ao meu redor .

Um redor cercado de desesperos e erros de todos os lados, os lados que não são exatamente lados, mas que servem de lados para os que estão do outro lado, que não é um lado exatamente dos lados.

Assim antes de estarmos em qualquer lado, temos que saber qual é o melhor lado, que não necessariamente pode ser um lado, mas que está servindo de lado, para todos os lados.

Assim, de lados em lados, tento entender a vida e os que se encontram na mesma, sem entender a mim mesmo. Um desespero que pretendo achar respostas nos lugares que não tem respostas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ARTE, VANDALISMO? PICHAÇÃO NAS MARGENS DA SOCIEDADE?

Por:
WAGNER MAIA DA COSTA.


Resumo:

Este artigo tem como tema, a Sociologia da Cultura. E é nesse bojo da sociologia da cultura, que pretender-se-á nos parágrafos seguintes traçar exemplos ou exemplo de um processo de formação e manifestação de um hábitus cultural. Para, além disso, se possível pretende-se abordar a questão do hibridismo na sociedade contemporânea.

O objeto cujo nesse trabalho terá relevância será a pichação, e seus hábitus de socialização. Pretender-se-á para além do já mencionado, tratar da questão de como os grupos de pichadores são tratados na sociedade. Como parte teórica, os textos terão uma importância relevante no entendimento das relações mencionadas anteriormente. Textos esses que vai desde Hábitus de Bourdieu (As Regras da Arte), até a noção de (Outsiders. Estudos de sociologia do desvio.) de Becker, ou sobre a pichação de Pereira Alexandre Barbosa. (As Marcas da Cidade: A Dinâmica da Pixação em São Paulo).

Os textos ajudarão, a entender como um determinado grupo vai formando seus hábitus culturais, e suas percepções diante da sociedade, e também os olhares que a mesma tem sobre os grupos de pichadores. Pois em sua maioria são considerados vândalos e destruidores do patrimônio público e/ou do privado. Por conseguinte, todas essas relações nos ajudarão entender a pichação e sua configuração como movimento artístico ou não, diante da sociedade contemporânea.

Assim o que se pretende como objetivo principal nesse presente trabalho, é analisar a formação do hábitus cultural e para, além disso, as percepções que os grupos que possui esses hábitus se relacionam com o restante da sociedade.

Palavras chaves: Pichação, Habitús Cultural, Sociabilidade, Movimento Artístico


Arte, Vandalismo?
Qual o Sentido da Pichação?

“A ministra do meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira, admitiu nesta quinta feira (15/04/2010) que a estátua do Cristo Redentor amanheceu pichada em porte dos braços. A estátua está coberta de andaimes e com os acessos a turistas fechados, já que houve diversos deslizamentos que interromperam a estrada que leva ao local, durante a chuva que atingiu o Rio.1”


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Esta pichação causou revolta a boa parte e se possível na maioria da sociedade carioca. Principalmente as autoridades governantes. Motivo dessa revolta se dá, devido ao Cristo Redentor, ser considerado o símbolo do Rio de Janeiro. Este foi tombado definitivamente como patrimônio nacional em dezembro de 2009. Sendo antes mesmo desse tombamento, eleito uma das sete maravilhas do mundo, no dia sete de julho de 2009.

Muito visitado pela classe média e média alta, e também pelos turistas, o monumento convive com uma espécie de visita a parte. As classes mais baixas apreciam o monumento no máximo pela televisão. Os preços não são convincentes para aqueles que sua renda familiar mal consegue sustentar sua própria família.

As pichações transgrediram algumas regras impostas pela sociedade. As ações, cometidas pelos pichadores, segundo as autoridades, foram criminosas. Se para os pichadores estes acontecimentos os colocam na visibilidade perante aos outros pichadores, para as autoridades é um motivo de crime. Os pichadores são considerados, grupos desviantes cujo conceito Becker chama de “Outsiders”. Pessoas que se definem nos gostos, ou atitudes adversas as do grupo dominante.

“Todos os grupos sociais fazem regras e tentam, em certos momentos e em algumas circunstâncias, impô-las. Regras sociais definem situações e tipos de comportamento a elas apropriados, especificando algumas ações como “certas” e proibindo outras como “erradas”. Quando uma regra é imposta, a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser vista como um tipo especial, alguém de quem não se espera viver de acordo com as regras estipuladas pelo grupo. Essa pessoa é encarada como um outsiders.3”

Assim para os pichadores o escândalo, a desviância se é que podemos dizer que os pichadores acham isso desviância? os colocam como atores privilegiados. Fato é que lhes dá uma ampla visibilidade aos seus pares e que cujo maior interesse do pichador, é ser reconhecido perante o seu igual, por outro lado estes também ganham visibilidade, mesmo que de forma negativa para o restante da sociedade.



“Desviância”---------“Escândalo”


Por isso, os outsiders, ou seja, os desviantes são menos importantes, para a sociedade quando cometem a prática do desvio, do que quando o desvio entra em choque com as ideias dominantes. A desviância, mais do que existir, ela afirma uma identidade ao consenso dominante.
“Choque ao consenso dominante”

Por consequência, para os pichadores, pelo menos boa parte desses, sua arte não é para fazer o que é bonitinho, mas ter seu próprio estilo, e na medida do possível, chocar com o grupo dominante. E se assim for pensado teve bastante êxito, pois:
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“O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que a prefeitura já está limpando o monumento. As pichações diziam “Onde está a engenheira Patrícia” e “Quando os gatos saem os ratos fazem a festa”. De acordo com Paes, a Polícia Federal e a Polícia Civil já estão envolvidas no caso e irão prender o que ele classificou como “Criminosos”. Para Paes, o caso é um crime de lesa-pátria.5”

Construção do Hábitus Cultural dos Pichadores.

Qualquer grupo que esteja pretendendo se solidificar como um grupo coletivo expressivo, e que tenha uma maneira própria de agir independente, possui seu espaço próprio, para expressar seus códigos entre seus iguais e seus bens comuns. Para muitos grupos, estes espaços são considerados como sua segunda casa, local este, onde rever os amigos e compartilha suas artes que foram expressas dias atrás pela cidade. Pois bem, isso não é diferente com os pichadores. Estes têm seu habitat próprio, geralmente freqüentado por outros pichadores de várias localidades da cidade onde residem, e se possível de outras também.

Em são Paulo os lugares são chamados de “Points6”, já no Rio estes lugares popularmente referendado de “Reu”, abreviação de reuniões, ou seja, local de encontro dos pichadores. Estas últimas ocorrem em diversos locais da cidade.

“Os pixadores são, em sua maioria, jovens moradores de bairros periféricos de São Paulo e o seu Point central constitui um espaço de encontro de indivíduos de diferentes regiões. Sua localização na região central da cidade deve-se justamente ao fato de esses jovens virem da periferia. O centro é um lugar estratégico por ser um ponto de convergência e também um espaço de passagem para todos7.”
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Assim o campo cultural dos pichadores, é aquilo que se dá em uma ideia de estilo comum. Segundo Bourdieu, o que constitui o campo cultural é o que ele chama de “hábitus8”. Por trás desse hábitus, existe uma noção de estilo, ou seja, existe uma ideia de uma comunicação de linguagem, mais do que isso uma ideia de comunicação entre os iguais.

Para Bourdieu, uma sociologia da cultura com comprometimento científico, tem que ter certa negação da questão ingênua de que existe uma cultura da representação da realidade. Assim segue o autor, pois se fosse dessa forma, teríamos mais diferenças do que semelhanças, mas não é o que observamos, e sim o contrário. As produções artísticas, não se propõem representar as percepções da realidade no seu campo artístico, mas sim o que a mesma deseja. Uma espécie de estilo próprio de agir literário.

Nesse sentido, a noção de hábitus, tem um valor heurístico fundamental, na medida em que a teoria da cultura nega certas especificidades da cultura. Pois essa teoria realça que a cultura deve expressar direta, ou indiretamente, o que está na base. Por consequência, a noção de hábitus, dar certa autonomia ao campo cultural, além de separar-se da representação da realidade, se solidificando como um campo próprio. Porém, adverte Bourdieu, não devemos cair na ilusão da onipotência do pensamento versus autonomia do campo cultural.

Autonomia do Campo Literário. V.S. Ilusão da Onipotência do Pensamento.

Ainda segundo Bourdieu, o problema e que se tentarmos fugir da representação da realidade como toda, podemos cair na lógica da ilusão onipotente, de que a obra de arte, se reproduz por si mesma, ou seja, por conta própria, sem significante e sem significado, sendo autônoma. Uma espécie de “internalismo9”.

Portanto, o campo cultural, tem uma lógica própria, mas isso não significa que este vai fazer o que bem vier da mente do artista. Tem-se uma autonomia, mas ela é relativa, além disso, ela não representa a realidade como tal, além de não haver uma noção de continuidade, mesmo assim ela busca sua autonomia não pelo acaso, mas reagindo-se diante da possibilidade de perder sua autonomia. Tem que reagir diante da pressão capitalista da acumulação, numa relação mercadológica, sendo (Obras boas são aquelas que vendem). Assim os pichadores, ao picharem o Cristo Redentor, não picharam porque deu nas suas mentes de pichar por pichar, mas sim diante de uma sociedade de pressão mercadológica, além de ser repressiva.

“Desde anteontem, a Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia federal investiga o ato de vandalismo, reivindicado ontem por uma gangue de Santa Cruz (Zona Oeste). A pena para o crime varia de três meses a um ano de prisão.
Grupo assume autoria os grupos de pichadores Gangue DP (Dopados e Perversos) e Irreverentes, da Zona Oeste, reivindicaram ontem a autoria das pichações no Cristo Redentor. Segundo o integrante de um dos grupos,- identificado apenas como Mazinho- o intuito do ato era fazer um protesto mais visível contra a falta de atitude de políticos e autoridades para com os problemas sociais. A pichação foi feita pelo Zabo, da Gangue DP, e o Aids e o Lube, do grupo Irreverentes.10”
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Parte Conclusiva.


Portanto, os artistas querem responder a algo concreto, que há no processo de mercantilização de tudo. Os pichadores se vêem diante de uma sociedade, onde a mencionada mercantilização é um dos fatores essências de solidificação capitalista. As maneiras como os artistas tentam escapar desse processo, são criando seu próprio hábitus, e habitat. No Rio estes são criados nas (Reus), em São Paulo nos (Points), onde os pichadores dialogam numa espécie de estruturante, estruturados, uma vez inseridos no grupo. É estruturado porque fazem parte de um grupo cujo bem comum é pichar, mas por outro lado, é estruturante, porque na medida em que esteja inserido, podem expressar sua pichação individual, apesar de fazer parte de um grupo. Cada grupo tem sua “grife12”, ou seja, a sigla que dar unidade ao coletivo, e ao mesmo tempo, os mesmos pichadores têm a liberdade de dar suas pichações individuais.

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http://www.google.com.br/search?q=fotos+do+cristo+redentor+PIXA%C3%87%C3%83O&btnG=Pesquisar&hl=pt-BR&source=hp&cr=countryBR&aq=f&aqi=&aql=&oq

Conclui-se nesse trabalho, que pensar em pichação como a feita no Cristo Redentor, em dois momentos diferentes, deve-se pensar não como vandalismo, pelo menos quem pretende estudar pichação. Devemos nos ancorar, numa rede de estruturas e códigos existentes dentro do mundo da pichação. E se os entendimentos ficam restritos aos pichadores, e sua busca pela autonomia, por outro lado, devemos entender que esses pichadores, estão querendo mostrar algo relevante para a sociedade, seja para a parte dessa ao qual se enquadra somente os pichadores, seja as demais partes da qual, se encaixam os leigos dessa possível arte. Esses códigos da pichação de certa forma contrapõem com os códigos dominantes, de uma sociedade mercadológica. Pensar dessa maneira é pensar que existem diferentes olhares sobre uma mesma arte, e se assim levarmos em consideração, cada um desses olhares tem seu valor próprio dentro de um coletivo, independente do seu tamanho e de sua expressividade.






Referências Bibliográficas e Matérias Afins.



Pereira Alexandre Barbosa. As Marcas da Cidade: A Dinâmica da Pixação em São Paulo. Lua Nova, São Paulo, 2010.

Pierre Bourdieu. As Regras da Arte. Gênese e estrutura do campo literário. Capítulo 1 Questão de Método. 2º Edição.

Howard S. Becker. Outsiders. Estudos de Sociologia do desvio. ZAHAr.

O Globo. O braço direito da estátua foi pichada. O prefeito Eduardo Paes informou que a limpeza já começou. 19/04/2010.

Dilascio Flávio. Polícia Federal investiga, e duas gangues da Zona Oeste reivindicam a autoria do crime. Jornal do Brasil, editora Cidade. 17/04/2010.