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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Cidade das Remoções

Por Wagner Maia.

Deixastes os meninos dormirem, cumpro mais um dia de batalha... Em poucos minutos o corpo entra em transe, o físico não aguenta mais, precisa de descanso.

Na batalha do sono, vem o encanto do sonho. Já em estado de êxtase, volto a pensar na cidade perfeita.

Nesta os indivíduos possuem minimamente suas casas... Não se trata das grandes caixas quadradas e suas friezas de porta em porta...

Os moradores convivem na mais perfeita sincronia, a humildade parece ser o ponto forte dessa cidade.

Uma cidade, que os mais humildes mesmo que suas oportunidades estejam distantes, surge acolhimento.

A cidade não possui suas áreas privilegiadas com seus metros quadrados e seus preços surreais.. Qualquer indivíduo pode comprar sua casa, pois o preço é simbólico, e não há mais valia.

Essa cidade não é para poucos e sim para todos, o lugar não é um lugar privilegiado com seus feudos privilegiados... É um espaço de todos que se resume em muitos...

Que pena, já são quatro horas da manhã, hora de ir trabalhar, o relógio é mais teimoso que meu sono, apita descontroladamente... A promessa é de uma oportunidade de emprego.

Antes do raiar sol, sigo rumo a felicidade ilusória... Hoje minha prefeitura está fazendo caridade e colocando alguns pobres coitados a removerem outros pobres coitados

Não posso desistir, meus filhos precisam dessa migalha de pão... Na primeira remoção, vejo que mundo vivo, uma irmã de cor, que contabiliza seu oitavo filho no colo..

Com o despejo, serão mais nove cadáveres rondando pela cidade. Esta baronesa da pobreza é quem cuida da casa... Seu parceiro cortara laços toda vez que a mesma ganha filho.

Acostumada com despejo, a penas lamenta por mais uma perda... Meus olhos por mais que tentam disfarçar, não sustentam as lágrimas guardadas por muito tempo...

Os homens dos canudos, despejam sem pudor, apenas dar a cartada final...

Na sua humilde fala, que na concordância verbal já não significara muito naquele momento, exclama em minha direção... “Porque choras, a penas faça seu dever.”

Meu dever é fazer minha cor sofrer. Sofre porque tenhas minha cor.. Sofre porque não existe casa para minha cor. Sofrer porque nem todos merecem viver... Sofre porque minha cor quer viver.

No fim do dia, contabilizo a vigésima remoção, dezenove é da minha cor, uma é da cor dos primeiros habitantes dessa terra...

Como chego em casa e olho para meus filhos? Pois, estes podem ser os próximos...

Sinto-me envergonhado do papel que fizestes hoje. Mal janto e vou dormir cedo, quero voltar a sonhar, pois minha realidade é um pesadelo...

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