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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Ponta de Uma Contradição Profunda. Criminalização da Pobreza.

Por Wagner Maia da Costa


O Rio de Janeiro vem passando por transformações jamais vistas em questão do tratamento da violência, o mais recente diagnóstico de uma possível luta contra a criminalidade, foi à ocupação do território de uma das favelas mais populosa do Brasil, (Rocinha). Em quatro horas, foi tomado o território, que segundo as autoridades da segurança pública estava conflagrado há várias décadas. Num passar de olhos os problemas da favela se reverteram em uma entrega da comunidade para sua população.

Ainda para as autoridades, esta é só mais uma comunidade no total de 40 até 2014, que serão ocupadas. “Beltrame diz que meta de instalar 40 UPPs no Rio de Janeiro está mantida” (http://jconline.ne10.uol.com.br/) As alegações são a de que não adianta só chegar a polícia nesses locais, é necessário implantação de serviços básicos, e isso as grandes empresas estão fazendo muito bem. Ao serem ocupados esses territórios, são impregnados de empresas telefônicas, de internet, e recomposição da rede elétrica, que segundo as autoridades são de extrema importância. Não me desfazendo da importância dos mesmos, me ancoro num projeto de cidade que abarca uma rede de beneficio que vai muito além de um simples colocar de internet.

Os problemas das comunidades, parecem se encerrar com a entrada da polícia, da noite para o dia, as escolas voltam a funcionar com a mais perfeita potência, a saúde ganha um amplo reforço com uma miragem de construção de hospitais. A Cidade do Rio de Janeiro, parece caminhar para uma grande evolução rumo a civilização, as populações ditas sub humanas, são adestradas a se colocar no seu devido lugar, na margem das áreas mais ricas, e em baixo das rédeas dos grandes fuzis que nas mãos dos policiais faz representar a ordem. O toque de recolher em algumas comunidades, demonstra o poder bélico e da ditadura que uma localidade em pleno século XXI pode conviver. “As humilhações como: tapas nos rostos, xingamentos, espancamentos e até ameaças de mortes, não são nem um grão de areia da opressão que o tráfico fazia”, essas afirmações que encontramos bastantes recorrentes nas redes sociais tais como: Fecebook, twitter, Orkut etc. Os defensores alegam que as comunidades estão livres da opressão.

O tráfico sempre foi um componente essencial dos governantes, que ao longo das décadas oprimiram as favelas e as regiões periféricas da cidade. O intuito dos mesmos era de acabar com um mal que crescera como um câncer, que através de sua mitose encontra uma proliferação quase que desenfreada. A quimioterapia, se dá com o enfrentamento dos policiais contra o dito poder paralelo (tráfico). No entanto, a ocupação recente das favelas, vem se dando numa repleta harmonia entre traficantes e autoridades governantes. O anúncio das ocupações vem muito antes das mesmas serem ocupadas, e dependendo do local não há um tiro se quer. Isso não quer dizer que estamos tratando o enfrentamento melhor que o afastamento dos ditos (bandos), o que se alega é à saída de alguns desses homens para outras localidades e a permanência de alguns na mesma localidade onde tinham o poder. O tráfico continuará com suas raízes ao longo da cidade.

O grande espetáculo, se dá com uma intensa cobertura das mais prestigiadas emissoras de televisão e outros instrumentos de comunicação de massa. Os jornalistas, ao entrarem pela primeira vez num território “livre”, vão a caça dos mais calados moradores. O medo de falar, está estampado em cada rosto que ao saírem de uma opressão, acabam em uma ditadura dos policiais.

O grande projeto das ocupações e remoções de algumas localidades, atendem um amplo projeto de cidade vendível. Os grandes empresários, montam seus conglomerados, a fim de obterem um lucro com a valorização da cidade. As localidades e seu entorno estão sofrendo um surto de super valorização, isso faz com que as casas fiquem muito mais caras, e a condições de sobrevivência, fica cada vez mais difícil . Os grandes eventos que estão a caminho (Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Olimpíadas 2016), têm que ter uma proteção, bem significativa para alocação dos turistas e esportistas do mundo inteiro. As favelas que estão sendo ocupadas, atendem todos os requisitos, a maioria encontra-se na Zona Sul da cidade e quando não nessa área, terá grande importância para os jogos, é o caso de algumas localidades na Zona Norte, e Zona Oeste.

As mudanças que vem sendo feitas na cidade, estão prezas numa lógica de criminalização da pobreza. Para que os grandes projetos sejam bem executados, é necessário que os pobres estejam num lugar estratégico na cidade, a mesma não é para todos num olhar único, seus espaços tem ocupações diferenciados. A percepção dos pobres que seu lugar, é em torno de sua favela, ou área periférica, tem que ser a todo o momento alertado pelos meios de comunicação. Uma fez sendo desrespeitada essa lógica, o indivíduo será severamente punido. Assim os moradores convivem num julgamento antes mesmo de cometerem, ou não qualquer ação que é considerada crime. O criminoso na Cidade do Rio, tem cara, cor e localidade. Os moradores dessas áreas atendem todos esses requisitos. As autoridades tem que reprimi-los e tornar a cidade mais segura. Criminalizá-los, é atender uma lógica que vai muito além de um jogo político regional, abarca um projeto que tem suas raízes para além do país.

Todo esse jogo de criminalização dos pobres, é camuflado pelo enfrentamento do tráfico. Este último, a pesar de ser a ponta de uma contradição bem mais profunda das complexas relações da violência urbana. Afastar o tráfico das regiões mais privilegiadas da cidade, é dizer que está afastando um mal, que assola as favelas e áreas dos grandes eventos. Os outros problemas como educação, saúde, saneamento básico etc, fica para próxima ocupação, que sabe lá quando chega, pois o melhor os governantes estão conseguindo, uma aprovação para criminalização dos pobres e da pobreza.

Uma Cidade das Oportunidades.

Minha cidade perfeita, é repleta de oportunidades de empregos, pontos culturais, lazer entre outros serviços que deixa a população navegar na mais perfeita das nuvens floridas.
Ao sair de casa, encontro vários postos de trabalhos, nessa cidade as pessoas são servidas em casa com propostas irrecusáveis, pois, nesses trabalhos, o trabalhador não é escravizado, sua palavra tem tanto valor quanto a do patrão.

Os salários, não são exorbitantes no que se imagina em níveis de diferenças. Os patrões sentam com seus empregados que mencionam como acham que deveria ser o dia-dia do trabalhador.
Os pontos de lazer não têm uma estreita separação entre classes. As praças são para todos. Os cinemas atendem as populações mais carentes, quando não tem dinheiro entram de graça, quando tem , dá um valor simbólico.

Os pontos culturais se perdem em abundância. Os atores representam um olhar que afloras as imaginações da população.

As grandes tragédias são interpretadas como grandes feitos que não marcam, mas sim devem ser superadas. Os filmes já não mostram suas ideologias perversas.
Os ventos fortes batem na minha humilde janela de madeira, que num passar de olhos acordo no meu mundo de ilusão.

Um mês sem empregos sigo minha caminhada a fim de encontrar esse bem, que tanto me faz chorar. Já na minha vigésima procura, não tenho mais expectativa de encontra-lo.

Ao sair de casa antes do nascer do sol, mal vejo meus sete filhos, que choram clamando por comida, se desesperam a fim de chegarem na escola para comer a única e humilde refeição do dia.
De posto em posto minha cor parece ser um fator de repleto julgamento de minha possível deficiência, minha região de moradia me tira qualquer possibilidade de ser aceito.
A pós um dia de procura, tento levar meus filhos para brincar nas praças para esquecerem do mundo de tristezas que são obrigados a estarem.

Nas praças, as crianças são divididas por cor, os brinquedos como se fossem desinfetados não são para todos. As mais humildes e que a melanina chegou em abundância são julgados como impuros.
Choro pois meus filhos se enquadram nesse jogo. Meu desespero me dar força para superar essa realidade. Mal espero que chegue a noite, assim eu volto a dormir e sonhar com minha cidade perfeita.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cidade Perfeita

Ao acordar percebeste que estava na cidade perfeita.

Os soldados já não exacerbam com suas forças extremas para lidar com o povo.

Nas veias percebi que o sangue, circulava na mais perfeita sincronia.

O café já feito no bule, as migalhas de pão se transformaram na mais perfeita torrada.

Ao sair de casa o transporte como nunca, andas de vento em popa, os trocadores e motoristas, dialogavam com os passageiros na mais perfeita alegria.

Os jornais já não mostram mais suas ideologias perversas, que manipulam o povo com mais perfeita das ironias.

As televisões por um dia, não mostram cadáveres pelo chão, muito pelo contrário, dá voz aos mais carentes, além de deixar os mesmos darem seus depoimentos.

As almas penadas que inalam seus demônios de cada dia, se libertaram de um mal que provavelmente os dilaceram em dez segundos.

As forças de paz, só por hoje não tomam o poder através das guerras.

Os homens que são responsáveis pela pobreza, hoje lutam contra essa doença que só faz crescer nas margens das grandes cidades.

As crianças depois de um dia perfeito nas escolas, voltam para casa na mais perfeita tranquilidade.

Os maridos esperando suas mulheres voltarem do trabalho, e as mesmas fazendo com que o dia de hoje passe na mais vagarosa tranquilidade.

O mundo caminha na mais perfeita alocação de um por do sol perfeito.

O brilho das águas já não enche mais as casas de humildes moradores, que nas vésperas do verão choram por transformação. Hoje o poder público aparece na mais perfeita harmonia.

Hoje negros/ homossexuais entre outros, já não sofrem mais agressões e nem discriminação.

Essa cidade perfeita, pelo menos existe no subconsciente do mais humilde indivíduo solitário.

Num surto quase que desenfreado, acordo na mais perfeita sincronia, com tiroteios ao redor do meu lar.

Não me dando conta das dimensões que meu subconsciente tinha chegado de uma cidade perfeita, que se desespera na chegada da possibilidade da realidade.

Meu café não tem o açúcar de outrora. O pão já não se encontra na humilde vasilha, os condutores dos ônibus não falam com os passageiros, as crianças não vão para as escolas, e os governantes não chegam para lutarem contra a pobreza.

Aos poucos, percebo que esse mundo de realidade, é bem menos real que meus sonhos de uma cidade perfeita. A perfeição está no meu subconsciente, que a todo o momento quer fazer dos sonhos a realidade.

Minha realidade hoje chora com os cadáveres pelo chão das mais humildes favelas.

Hoje minha cidade chora por não ter saúde, educação, segurança, pontos culturais. Todos choram pelo mal que só faz crescer as revoltas populares.

Mas, tudo é camuflado nas mais perversas das mídias, e seus ancoras que nas bordas de seus lábios expressam seus sorrisos de satisfação pela contenção dos mais humildes dos inocentes.

Assim, a cidade de hoje é perversa, sem graça, genocida e formadora das mais horríveis degradações dos seres humanos. Hoje clamo pela volta dos meus sonhos que pelo menos no meu subconsciente ver um mundo perfeito, uma cidade ideal.