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terça-feira, 14 de junho de 2011

As vozes que são caladas na favela!

“A favela não tem voz, ela é atacada de todos os lados, mas não consegue se defender.”
Bezerra da Silva.
Documentário “A Onde a Coruja Dorme”



A favela sempre foi representativa no cenário da estruturação da cidade, apesar de nessa estruturação ficar sempre estigmatizada como a cultura do submundo. Esta sofre há quase um século, ou mais, das iniciativas dos poderes estatais, na tentativa de aniquilá-la, e torná-la cada vez menos significante na lógica da cidade urbanizada.

Bezerra ao mencionar que a favela não tem voz, anuncia que a mesma, a todo o momento, ver suas iniciativas de brigar por melhorias serem aniquiladas de diversas maneiras. Não ter voz, é não ter representação quanto a decidir seu futuro, e não entrar para uma discussão mais ampla na questão da cidade. Complementando Bezerra, a favela não tem voz, porque a mesma é ofuscada por diversos mecanismos, tanto estatal, tanto quanto setores da sociedade que querem ver a favela cada vez mais afastada da cidade, como se ela não fosse uma parte da cidade.

A distinção se dá no campo da urbanização, e é através desse campo que muitas comunidades recentemente deixaram de ser favelas. A tentativa de diminuir o número de favela no Rio, parte do pressuposto de que trocando de nome, possa-se a dar melhores condições de vida aos moradores, além de ser um fator de facilitação de controle daquela região. A lógica de tornar as antigas favelas em Bairros, parte de uma perspectiva de cidade que vai além de um simples trocar de nome. É de uma certa maneira, colocar o poder estatal como transformador de antigos locais ditos “subumanos” em ambientes desenvolvidos, apesar de que na prática pouco se muda, inclusive na truculência das forças do Estado sobre essas comunidades.


Ainda no que bezerra mencionou, “não ter voz”, no caso da favela, faz com que as autoridades governantes tenham uma certa autonomia com estes lugares, e, por assim dizer, como o poder público não está muito preocupado em promover melhorias, mas sim contenção, esta meta parece ser alcançada a cada dia com essas novas iniciativas. Uma lógica de cidade cercada para os grandes eventos, agora como prerrogativa de intervenção social e integração desses lugares.


Não ser mais “favelado”, parece soar como uma satisfação, mas esconde uma perversa e cruel subordinação dos moradores das favelas, na cultura do “cada um no seu lugar”, não ter nome de favela, não significa não ter as condições precárias que algumas comunidades vem sofrendo ao longo de quase um século de existência. Muito pelo contrário isso camufla as iniciativas que o poder estatal deveria ter, para tornar as favelas, mais representativas na arena de discussão. Além de camuflar a obrigação do Estado em promover melhorias de condições de vida para quem está necessitado, principalmente no que se concebe a valor econômico.

A favela sempre foi motivo das iniciativas do Estado, quase como sempre iniciativas de aniquilação. Por conseguinte, as mascaras das iniciativas estatais, se escondem numa lógica de integração da favela aos restantes dos espaços da “cidade partida”. A divisão da cidade se dá no imaginário do convívio e das representações que distinguem esses lugares. Ser diferente não significa ser motivo para a discriminação, mas acaba sendo, e principalmente no Rio de Janeiro cercado por favelas, pelo menos na Capital.

A distinção da favela para as demais partes da cidade se dava principalmente pelo nome, além de outros critérios. Entretanto, num passar de olhos algumas dessas viraram Bairros. A prerrogativa é a de inserção. Ao mencionar esta mudança, o Estado assina a carta de não ter competência para tratar as favelas com dignidade e respeito.

Assume-se assim, uma postura de camuflagem de nome, ou pensando numa lógica mais crítica, este é só um passo para as iniciativas de repressão que estão a caminho ao longo dessa nova década. Duas perguntas soam no ar. Vamos esperar para vê? Ou tomaremos iniciativas contra essas truculências? As respostas, não devem só serem dadas nas palavras, mas também com iniciativas concretas do agir coletivo.