Tifli Camarada Camarão

Pichação no Rio de Janeiro

Tifli camarada Camarão

Roda Cultural

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cheiro de poesia? Não! Triste fim da pele negra.

Cheiro de poesia descendo rio a cima?

Engano seu, diz os mais velhos. 
 
O rio só segue um destino. Sempre para baixo. 
 
Translucido de fazer poesia e nela encontrar meu destino.

Livros comidos num infinito das abundâncias das palavras.

Pele negra debaixo da calçada, mãe chora pela perda de mais um filho esmagado pelo carro preto, vestido de preto. 
 
O que tudo isso tem a ver com poesia?

Nada, eis a mais pura realidade de quem se enquadra nesses quesitos. 
 
Rio a cima e sangue a baixo, cachoeira de lágrimas de décadas perdidas.

Cheiro de poesia reina nas cadeias, travestidas de negros presos num infinito sem fim. 
 
Triste fim da pele negra, séculos e mais séculos. Qual o resultado?

Cheiro de poesia e sangue nas calçadas. 


Wagner Maia da Costa. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Negro de pés descalços.

Ontem, dormi acordado.

Hoje, acordei dormindo. 
 
Ontem, dez quilos mais magro.

Hoje, onze quilos mais gordo.

Ontem, pés descalços e sensação de leveza.

Hoje, pés calçados e centenas de calos da vida.

Hoje comi o necessário. 
 
Ontem, três quilos a mais.

Hoje, passeava pela calçada e via somente pés calçados.

Ontem, sub jaz os necessitados pedindo o que calçar e comer.

Hoje, me convenci de que sou negro. 
 
Ontem, dormi pensando que eu era um Branco. 
 
Hoje, recebi uma notícia de que os negros não sofreriam mais. 
 
Ontem, uma notícia de mais uma chacina de negros.
 
Hoje, minha mãe dissera que meu pai não a bate mais. 
 
Ontem, fora espancada diante de seus filhos.

Ontem, sonhe que esse mundo não tivesse mais tristeza.

Hoje, ainda não acordei do meu sonho eterno.


Por: Wagner Maia.