Tifli Camarada Camarão

Pichação no Rio de Janeiro

Tifli camarada Camarão

Roda Cultural

Total de visualizações de página

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

As favelas e Suas Representações!

As favelas não precisam tentar copiar as manifestações burguesas que vem ocorrendo na Cidade e no País como todo, para se fazer representada no noticiário dos grandes tele jornais, ou até mesmo nas redes sociais.

Sua luta por si só, já é de extrema relevância para toda sociedade, mesmo que boa parte dessa última não reconhece a favela como local de múltiplas representações de protestos, manifestações culturais e divulgação de seus pontos de cultura, etc.

As favelas, muito mais do que se fazerem representadas através das cópias, tem que servir como um amplo campo de trabalho pedagógico de conscientização contra essa sociedade conflagrada, em que cada vez mais tendem a se mostrar um cenário de banalização das questões sociais mais relevantes da sociedade.

As redes sociais cujo venho criticando pela sua margem superficial das relevâncias sociais, tendem a mostrar alguns cenários como civilizados, que outrora fora considerados um submundo dos anormais. O câncer parece ter desaparecido como num ato religioso cuja as orações parecem fazer mais efeito do que a realidade em si.

As realidades que venho acompanhando das favelas cariocas pouco têm-se mudado nas questões de reformas significativas. Nas enchentes, as favelas são as mais prejudicadas, na educação os jovens, crianças e adultos não se fazem representados por uma educação hierarquizada.

Os códigos de uma mudança social, travestidos em pseudo práticas sociais, estão calando uma revolta popular, mesmo que resumida em poucos indivíduos em algumas situações, que sempre estiveram presentes nos questionamentos por mudanças.


O trabalho que venho ratificando como de extrema importância par a cidade, parece ser diferenciado 360 graus do estipulado no cenário atual da Cidade do Rio de Janeiro. As futuras gerações possivelmente, sofrerão as consequências do fazer de agora, que visa certas estratégicas para um conjunto de empreendimentos num futuro próximo.

O trabalho pedagógico, é permanente e tem que ser permanente, como num combate a homofobia, racismo, preconceito étnico, religioso entre outros. A favela e o restante da cidade, tem que está numa arena política de igual debate crítico, não se fazendo mazelas e feudos privilegiados. O privilégio torna os indivíduos, atores fracos no combate a desigualdade e descriminação social. Ao invés de serem atores privilegiados, temos que ser atuantes no combate ao privilégio e outras mazelas da sociedade.


Wagner Maia da Costa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma Cidade limpa, longe do Vandalismo! A onde se Encaixa a Pichação?

Uma Cidade limpa.

Muito tem se falado da cidade do Rio de Janeiro como a cidade limpa, longe do estigma de outrora, com suas representações de sujeiras nas paredes dos monumentos e de outras regiões de previlégios da cidade.

A cidade passa por reconfigurações da estética urbana, em que não abarca algumas manifestações artísticas. Muitas, são vistas como mero comboio de vandalismo, e por assim dizer, tem que ser combatidas. Por conseguinte, a pichação enquadra-se nesse estigma, esta é vista como depredação do patrimônio público e do privado. Dotados de uma ampla capacidade de adrenalina, os pichadores estão a todo momento expressando seus códigos pela cidade.

Entretanto, a mesma no os ver de forma satisfatória, seja por puro preconceito, ou por não conhecer as mensagens que esses, geralmente jovens querem passar.

Na conduta da cultura de rua, que outrora fora tratada com extrema repressão e preconceito, vem tentando romper barreira dentro de uma cidade altamente hierarquizada. As dimensões da estética na cidade metropolitana, possuem suas regras restritas que devem ser obedecidas por sua população. Os códigos dos pichadores no entanto, foge dessa regra, se constituindo em um bem comum ao universo de seus iguais. Longe da dita cidade limpa.

Porém, pensando quanto manifestação artística, essa deve ter total liberdade de manifestação cultural, muito pelo contrário que pensam da pichação de não ter seus limites e códigos implícitos e explícitos, ela é formada por uma estrutura bem significativa em questão de ir contra os dogmas posto na sociedade.

As inúmeras repressões que sempre fizeram parte do aparelho policial no Rio de Janeiro, tende a crescer na medida em que essa revitalização começa a dar seus primeiros passos. A intensificação no combate a pichação e outros grupos de arte popular, está dentro de uma lógica da cidade vendível, mesmo que no seu interior, a mesma guarda um complexo campo de estigma e segregações.

O não entendimento dessas manifestações, já está subjugado como o entendimento da mesma como mero vandalismo, e que deve ser combatido. Parto da perspectiva, que a pichação é mais uma forma de manifestação cultural, e que como todas as de mais guarda seus códigos e sua beleza, que não necessariamente está alocada na questão da estética. Esta última, é só um meio de quem detém o poder da proliferação da arte, lidar com esse campo heterogênio de manifestações culturais.

Wagner Maia de Costa...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Etnia Invisível...

Por Wagner Maia




Se vir os cadáveres caindo pelo chão... não digas que todos são de uma mesma etnia.

Se olhares as perfurações pelas paredes, elas têm um escorredor que esbafori toda uma gente que não se ver representada,

As porcentagens são desiguais.... As chances de sobreviver são a todo o momento recalculadas pelos grandes estatísticos.

Minha cor não me deixa dormir, até já pensei que fosse minha culpa.... Viver parece ser a coisa mais difícil de se conseguir.

Por muito tempo, ficaste preso num porão que as dimensões quase que surreais.

Meu corpo às vezes tratado como objeto, outras como mercadoria descartável.

Só por hoje, tive um sonho surreal de não fazer diferença meu excesso de melanina...

Só por hoje, sonhaste que uma simples palavra não signifique sofrimento.

Os grandes carros que da mesma cor que tenho, sobe com homens vestidos com a mesma cor que tenho, dilaceram gente da mesma cor que tenho...

Pobre homem, que num passo descontrolado, cai sobre as valas que navegam suas impurezas que há muito não foram tampadas...

Os grandes senhores de ternos com alguns intervalos no tempo, andas pelas valas abertas..

Só por hoje, pensaste que uma simples lei que há quase dois séculos fizera, fosse significativa.

Se não sou ouvido, meu cadáver serve como culpabilidade de uma sociedade perdida.

Os grandes verniz que sujam as ruas das grandes ruelas e becos... só por hoje tiveste nome.

Sou Chico, Maria, Denis, Júnior, Rafael, Leandro, Tatiana, Juliana, Carolina, Robson, Carlos, Willian... somos dignos e merecemos ser contabilizados como gente.

Meu gênero somado a minha cor, me deixa no submundo dos marginais.

Há décadas sou espancada por quem sofre junto comigo, um oprimido sendo opressor.

Os excessos de bebidas destiladas, me dar força de só por hoje ser um gigante... pobre homem.

Só por hoje, minha cor é devastada por um vírus que cresce em condições aritméticas.

O grande navio que carregara minha gente permanece vivo em cada coração, que hoje sobrevive nas áreas mais conflagradas...

Hoje sou negro, branco, pardo, amarelo... que seja, só clamo por justiça, por dignidade, igualdade... só por hoje quero viver mais um dia... só por hoje... só por hoje...

A Cidade das Remoções

Por Wagner Maia.

Deixastes os meninos dormirem, cumpro mais um dia de batalha... Em poucos minutos o corpo entra em transe, o físico não aguenta mais, precisa de descanso.

Na batalha do sono, vem o encanto do sonho. Já em estado de êxtase, volto a pensar na cidade perfeita.

Nesta os indivíduos possuem minimamente suas casas... Não se trata das grandes caixas quadradas e suas friezas de porta em porta...

Os moradores convivem na mais perfeita sincronia, a humildade parece ser o ponto forte dessa cidade.

Uma cidade, que os mais humildes mesmo que suas oportunidades estejam distantes, surge acolhimento.

A cidade não possui suas áreas privilegiadas com seus metros quadrados e seus preços surreais.. Qualquer indivíduo pode comprar sua casa, pois o preço é simbólico, e não há mais valia.

Essa cidade não é para poucos e sim para todos, o lugar não é um lugar privilegiado com seus feudos privilegiados... É um espaço de todos que se resume em muitos...

Que pena, já são quatro horas da manhã, hora de ir trabalhar, o relógio é mais teimoso que meu sono, apita descontroladamente... A promessa é de uma oportunidade de emprego.

Antes do raiar sol, sigo rumo a felicidade ilusória... Hoje minha prefeitura está fazendo caridade e colocando alguns pobres coitados a removerem outros pobres coitados

Não posso desistir, meus filhos precisam dessa migalha de pão... Na primeira remoção, vejo que mundo vivo, uma irmã de cor, que contabiliza seu oitavo filho no colo..

Com o despejo, serão mais nove cadáveres rondando pela cidade. Esta baronesa da pobreza é quem cuida da casa... Seu parceiro cortara laços toda vez que a mesma ganha filho.

Acostumada com despejo, a penas lamenta por mais uma perda... Meus olhos por mais que tentam disfarçar, não sustentam as lágrimas guardadas por muito tempo...

Os homens dos canudos, despejam sem pudor, apenas dar a cartada final...

Na sua humilde fala, que na concordância verbal já não significara muito naquele momento, exclama em minha direção... “Porque choras, a penas faça seu dever.”

Meu dever é fazer minha cor sofrer. Sofre porque tenhas minha cor.. Sofre porque não existe casa para minha cor. Sofrer porque nem todos merecem viver... Sofre porque minha cor quer viver.

No fim do dia, contabilizo a vigésima remoção, dezenove é da minha cor, uma é da cor dos primeiros habitantes dessa terra...

Como chego em casa e olho para meus filhos? Pois, estes podem ser os próximos...

Sinto-me envergonhado do papel que fizestes hoje. Mal janto e vou dormir cedo, quero voltar a sonhar, pois minha realidade é um pesadelo...