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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Entre o Presente, Meio século de banalização da Morte! E o Passado.

POR: Cristiane Santos de Castro,
Wagner Maia da Costa



Introdução.



Este trabalho foi parte conclusiva de uma disciplina (Tópicos Especiais em Sociologia X), ministrada por três professores e suas respectivas Universidades. Márcia Pereira Leite, Luiz Antonio Machado da Silva, e Marco Antônio Mello (UERJ, UFRJ, UFF). A referida matéria teve como tema principal (A Favela Filmada e Cantada). Ao longo de mais de três meses de curso, tivemos variadas apresentações de documentaristas; cineastas; professores universitários e produtores musicais. Pessoas engajadas na tentativa de retratar não só a favela e suas representações, assim como as demais partes da cidade, em diferentes períodos do século XX e início do XXI, que nos encontramos nesse presente momento.

Tivemos aula com o professor de música da UFRJ Samuel Araujo e seu trabalho sobre (A favela, e da música que se faz nesta e sobre esta). Com ele, aprendemos a importância da música como objeto de estudo, sendo pouco estudado nas ciências sociais, para, além disso, estudamos as representações que se dá da música e da favela através das relações sociais que se estabelecem com as mesmas. Não menos importante, tivemos aula também com o professor Filipe e seu estudo sobre (Etnografia Urbana na Gafieira Estudantil), onde o próprio faz um apanhado histórico do samba na cidade do Rio de Janeiro do século XX, e suas relações sociais. Além disso, foram apresentados outros estudos em equidistante importância aos já mencionados.

Ficar-se-ia neste presente trabalho mencionando as importâncias das diferentes aulas apresentadas ao logo do curso. Por não ter como fazer a “descrição densa1” de todas as apresentações, dadas nesse curso, limitar-me-e-mos a duas apresentações, não menos ou mais importantes que as demais apresentações, mas que nos saltou aos olhos sobre a questão da banalização da morte, em dois diferentes períodos da história do Rio de Janeiro.E é sobre essa questão, que daremos nossa total e exclusiva atenção, porém não deixando de analisar outras questões relevantes nesse processo.

Como parte metodológica, utilizaremos um filme e um documentário de dois diferentes momentos já mencionados. Extrair desses aparatos metodológicos, as semelhanças e as diferenças entre ambos e a sociedade carioca em dois momentos diferentes será nosso intuito. As semelhanças se dão na questão da banalização da morte e para, além disso, as formas de se relacionar entre moradores de favela e o restante da cidade. Ainda sobre a semelhança, os dois casos tanto o documentário, quanto o filme, a morte acontece, e as investigações nem tanto, e essa possível normalidade vai fazendo parte do dia-dia da cidade e de seus habitantes. Entretanto, as diferenças, entre o filme e o documentário, vão muito além da relação ficção/realidade. As diferenças se dão nos processos de aceleração da banalização da morte.

O primeiro filme como instrumento pedagógico é o (RIO 40º Graus) feito pelo Cineasta (Nelson Pereira dos Santos). O filme retrata a cidade do Rio de Janeiro, na década de 50, esta também foi à década de fabricação do próprio filme. Uma espécie de realismo da década de cinquenta da sociedade carioca. Neste, aparecem temas centrais que posteriormente viriam ser comuns na mesma sociedade, assim no País como todo. Temas esses que vão desde o machismo existente na nossa sociedade até os dias atuais, passando pela questão do futebol como mera mercadoria, assim como a praia local de sociabilidade diferenciada entre classes. Esta servindo como lazer para a classe abastarda e como trabalho para a classe menos favorecida economicamente. Principalmente moradores de favela. Sociedade essa também que já expressava uma preocupação com a questão do trabalho informal. Porém o que nos chamou mais atenção foi o tratamento mesmo que na década de 50, com a questão da morte e principalmente a de negros, e é nesse acontecimento que nos remeteu toda atenção mais detalhada, e também na comparação com o documentário.

Este por sua vez, mencionado anteriormente, trata-se de um documentário feito pela Cientista Social Juliana Farias (Entre Muros e Favelas, 2004). Neste documentário, a autora retrata a cidade do Rio de Janeiro da década de 90, principalmente o final dessa, e o início da década de 2000. Os eixos centrais desse trabalho são as chamadas chacinas feitas em favelas, ocorridas em diversas localidades da cidade. Para, além disso, discutem-se as mobilizações que se dão posteriormente às chacinas mencionadas. O documentário retrata a cidade, e suas recorrentes arbitrariedades, através das execuções quase como sempre de policiais para com os moradores de favela. A semelhança ao primeiro filme se dá no sentido de que a morte acontece e as providências nem sempre são tomadas, e a vida prossegue tranquilamente. A morte como normalidade numa sociedade violenta, embora muito mais recorrente no documentário.

As bases teóricas que nos debruçaremos, para estudar essa banalização da morte e da violência na cidade do Rio, ao longo de quase meio século, será três artigos do livro (Vida Sob Cerco. Violência e Rotinas nas favelas do Rio de Janeiro2), organizado pelo professor Luiz Antonio Machado da Silva.

O primeiro artigo é o do próprio Machado (Violência Urbana, Sociabilidade Violenta, Agenda pública), onde o autor analisa a cidade como local de incertezas e da violência, onde essas são recorrentes no dia-dia dos seus habitantes. Sendo os que mais sofrem com essa violência, são os moradores de favela, que recebem uma violência de mão dupla, tanto por parte dos bandos armados (traficantes) que residem nas favelas, quanto dos policiais que fazem incursões quase como sempre de forma violenta não separando “Quem é do crime, e quem é de bem”. Já o segundo artigo, tratará a questão da (Violência, Crime e Policia: o que os favelados dizem quando falam desses temas) de Luiz Antonio Machado da Silva e Márcia Pereira Leite. Os autores trabalham a questão dos discursos dos moradores, quando falam sobre a questão da opressão tanto por parte dos traficantes, quanto às dos policiais. Para, além disso, discutem as consequências dessas relações no dia-dia dos moradores.

O terceiro e não menos importante artigo que será tratado nesse trabalho é (Morte e Vida Favelada) de Luiz Carlos Fridman, onde o autor analisa a questão da violência, e da permissão para matar nas favelas e numa sociedade tão complexa e marcada por diferentes olhares. Os dos favelados e como esses vêem a cidade e o restante da população, e por outro lado mostra os olhares dos moradores das classes mais abastardas e o que essas pensam da favela e de seus habitantes. Deve-se deixar bem claro, que não se fechará às possibilidades de uso dos demais documentários e filmes passados ao longo do curso. E para, além disso, estará aberta a possibilidade de uso de outras referências teóricas.

Sinopse: Rio 40º Graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955.)

O filme retrata a cidade do Rio de Janeiro na década de 50, e mais específico em 1955. O próprio retrata a cidade no seu mais puro realismo, neste sobressai à questão do machismo recorrente nessa década assim como até os dias atuais, para, além disso, levantava-se uma questão que posteriormente, viria se tornar questão de debate público, a questão do comércio ambulante, que até então era proibido. O filme retrata também, a favela como um local onde a pobreza e a escassez de recursos econômicos são bastantes presentes. Mas também, trata o convívio dos moradores e suas relações sociais de convivência. A favela é mais um lugar a partir da qual um mundo social possa ser representado.

Não menos importante ao já mencionado, o filme retrata a relação de sociabilidade na praia, local esse, onde é nítida a diferença entre classes. Para as classes mais abastardas, a praia serve como momento de lazer e descanso, entretanto para as classes mais pobres e principalmente os moradores de favela, a mesma serve como local de trabalho, de onde se tira o sustento. O filme demonstra a diferença entre a favela do Cabo Sul e a praia de Copacabana.

Por conseqüência, retrata-se a questão do deslocamento dos moradores da favela do Cabo Sul para a praia vender amendoim, em sua maioria, são jovens e adolescentes, que tiram seus sustentos e os de suas famílias. Ao mesmo tempo o filme trata da questão dos nordestinos e sua relação de submissão na sociedade e também à posição do negro na mesma, quase como sempre de marginalidade. O que deixa também como marca expressiva, é a questão do futebol, este já sendo visto por um lado meramente mercadológico, o jogador como produto descartável. Como não deixou a política de lado, Nelson Pereira dos Santos expressou essa e suas relações extras oficiais, ou seja, no “jeitinho brasileiro”,

O morro do Cabo Sul e a praia de Copacabana são os dois lugares, que mais aparecem como locais de sociabilidade, e onde o filme mais se desenrola. Para, além disso, Copacabana local onde os meninos da favela se deslocam para vender o já mencionado amendoim é o lugar também, que mais nos chamou a atenção, devido à banalização da morte. Um jovem de cor negra que estava com os demais meninos da favela do Cabo Sul foi atropelado e morreu. Sua morte é resumida por alguns olhares de curiosos, e segue-se a vida no dia-dia da cidade.

No morro do Cabo Sul, ninguém soube da morte do jovem. E para, além disso, os moradores estavam preocupados na escolha do samba enredo para os ensaios do próximo carnaval. O filme termina com a mãe do jovem esperando em vão sua volta debruçada na janela e o restante dos moradores, comemorando a escolha do samba enredo para os já mencionados ensaios carnavalescos.

Sinopse: “Entre Muros e Favelas” (Juliana Farias, 2004).

O documentário retrata a banalização da violência na cidade do Rio de Janeiro, e em específico nas favelas cariocas. Mais do que isso, expressa as reais condições de uma cidade violenta. Cada relato passado no documentário expressa um amplo olhar crítico de quem o assiste. A primeira chacina apresentada no documentário é a que ocorreu na favela do Caju em 7/01/2004, onde foram cinco pessoas mortas, as alegações dos policias pelas mortes foi a de altos de resistências. A segunda chacina trata-se da mais significativa para esse documentário, pois foi a partir dela que o próprio foi feito, esta ocorreu no dia 16/04/2004 onde quatro pessoas foram assassinadas na favela do Borel.

As quatro pessoas mortas são: (Carlos Alberto da Silva Ferreira, Pintor e Pedreiro, 21 anos; Carlos Magno de Oliveira Nascimento, Estudante 18 anos; Everson Gonçalves Silote, Taxista 26 anos e Thiago da Costa Correia da Silva, Mecânico19 anos). O documentário foi a partir dessas mortes e as mobilizações que se deram por causa dessas. O mesmo não se restringiu a esses assassinatos, passando outros ocorridos em momentos diferentes da década de 90, e início da década de 2000. Favela de Manguinhos 13/04/2004, um morto com tiro à queima roupa, favela do Salgueiro 1995 morte de um jovem com um tiro certeiro na cabeça e dois no braço.

Ao retratar esses assassinatos, o documentário, dar ênfase também nos discursos dos movimentos que lutam contra essas execuções, além de passar discursos de pessoas da Comissão dos Direitos Humanos (Marcelo Freixo). Mostram-se também as falas de alguns moradores e especialistas, sobre o que os mesmos pensam sobre a violência da polícia no Rio.

O término do documentário, não se dá muito deferente ao filme Rio 40º Graus. Embora muito mais impactante que o filme, o documentário mostra o processo de banalização da morte, agora aceleradamente permitida numa sociedade bem mais complexa em termos de violência, do que a da década de 50. E para, além disso, mostra-se o processo de aceleração dessa banalização. O fim do documentário expressa um sentimento de mãos atadas quanto a esses acontecimentos, um jovem morto, que se resumia ao choro de sua família e de seus amigos. A vida parece dar sequência com sua repleta normalidade, as crianças brincando e os moradores descendo e subindo a favela para o seu cotidiano.


Um Nexo Entre o Passado e o Presente.
A Banalização da Morte!

“Moro onde os meios de comunicação,
só chegam para contar os mortos3”

Pensar em diminuição, ou aumento da letalidade no Rio de Janeiro nas décadas que se encerraram, parece não ser uma tarefa muito fácil de analisar. No chamado “efeito sanfona”, esses índices estão em constantes transformações, tendo seu momento de diminuição e quase como sempre seu momento de elevação. Esses índices parecem romper com a lógica do absurdo, a imprevisibilidade, se torna marca recorrente numa sociedade marcada pela “Permissão para se matar4”.

Se nos ancorarmos somente nas bases estatísticas, para tentar explicar os altos índices de violência e em específico a letalidade, jogaríamos toda uma complexidade das relações sociais, numa simples média do total dos acontecimentos. Pensando dessa forma, deixam-se de lado as especificidades, que cada parte da cidade possui e para, além disso, deixar-se-ia de analisar os códigos existentes, no mundo da favela, no mundo dos restantes das localidades da cidade e principalmente entre essas duas esferas.

Se não bastassem os códigos existentes entre os diferentes locais da cidade, esta também se ancora numa aceleração desenfreada da banalização da morte. Assim a morte está entrelaçada numa lógica muito mais abrangente do que acontecimentos em locais isolados da cidade. Presa numa lógica de violência urbana, “que rompe com a normalidade das rotinas cotidianas, ou seja, da certeza sobre o fluxo regular das rotinas em todos os aspectos: cognitivos, instrumental e moral5”.

Assim a morte é só mais um ato final das complexas práticas, que ultrapassam a barreira da normalidade da rotina do dia-dia. Machado reconhece que essa violência urbana tem um padrão específico de sociabilidade, da qual ele a chama de “Sociabilidade Violenta6”. Esta se dá basicamente através da força física, além dos complexos orgânicos de práticas coletivas e não de ações individuais. Entretanto, como pensar no processo de aceleração da banalização da morte numa sociedade onde as relações sociais se dão na base das incertezas do tratamento da Violência urbana?

Por conseguinte, antes mesmos de nos debruçarmos nessas questões tão relevantes nesse presente trabalho, devemos votar a algumas décadas atrás, para analisarmos e percebermos que a morte já tinha valor diferenciado na cidade do Rio de Janeiro. A sociedade carioca da década de 50, passada por Nelson Pereira dos Santos, (Rio 40º Graus), a morte já era banalizada. O jovem morador do morro do Cabo Sul quando morreu atropelado, despertou pouca curiosidade dos que por ele passavam em Copacabana. A vida continuava na sua sequência de rotinas do dia-dia. Para os moradores do Cabo Sul, local onde o jovem morava, se quer souberam da morte, a preocupação ficava por conta da mãe do menino que não via seu filho, desde sua saída de casa.
Menos violenta, do que a sociedade atual, mas nem por isso, não deixava de expressar a diferença entre classes e suas sociabilidades. As relações de preconceitos de cor também já estavam como fator marcante no processo de diferenciação no tratamento das pessoas. Assim a referida morte era mais um acontecimento entre os demais.

Saltando-se quase cinquenta anos, a partir do documentário e dos relatos sobre as chacinas ocorridas no Borel e Caju, seguidos de outros assassinatos, passado pelo mesmo (documentário. Entre muros e favelas), é possível uma análise e observação de como tratamos o processo de aceleração da banalização da morte. Assim temos uma percepção de que a morte ocorrida dentro da favela, sendo de um morador da própria, é encarada e vista pela sociedade de uma maneira banal, no sentido em que, se torna mais uma dentre outras ocorridas cotidianamente. Passa a representar mais um número incorporado as estatísticas, que vão reafirmar uma visão errônea da favela como um local de representação da violência, como sendo o cerne de todos os problemas sociais. Assim pode-se recorrer ás considerações de Leite: “Segundo uma interpretação largamente difundida no Rio de Janeiro, as favelas seriam o território da violência, e a população ali residente, conivente com seus agentes, os traficantes de drogas7”.

Fridman destaca.
“Os favelados são tratados com desconfiança, sempre a um passo ou a distância nenhuma do crime. E, paradoxalmente, aqueles que pedem “menos Estado” insistem no dispêndio cada vez maior para a segurança e o sistema penal. As políticas sociais com relação as grandes massas cada vez mais desalojadas da divisão social do trabalho não mais se destinam à criação de redes de proteção social para os mais vulneráveis ; trata-se agora de fortalecer o ‘ estado guardião’, aquele que garantirá eficácia na criminalização da pobreza.8”

A favela e os seus moradores são percebidos como “outro”, dentro da sociedade, como um elemento perigoso que traz instabilidade e precisa de certa forma ser neutralizados, e assim são submetidos a uma segregação territorial urbana demarcando seu lugar na cidade, devido às diferenças entre as classes. A favela assim é percebida como território da violência.
Em (Morte e Vida Favelada), Fridman, ressalta:

“A permissão pra matar”, que é concebida pela sociedade aos organismos de repressão ao crime...9”
Essa concessão ocorre sob alegação de combate á violência, em especial ao crime. Um “aval” defendido por parcelas da população que naturalizam a violência, no sentido de banalizá-la e como medida para solucionar o problema da violência urbana vivida na cidade do Rio de Janeiro. Assim episódios de violência, são considerados como rotineiros e recorrentes dentro das favelas, e quase como sempre, envolvendo seus moradores. Estes são vítimas e algozes da violência banalizada.
Esses episódios de violência e morte aparecem na sociedade como mais um caso, tanto por ser um local de “sociabilidade violenta10”, como por ter os favelados como atores principais neste cenário de incertezas e medos causados pela violência urbana. A sociedade como um todo sofre e é vítima da violência, mas quem mais sofre nesse processo é a população favelada, negra e pobre, ou das periferias.

As mortes e casos violentos ocorridos nas favelas são banalizados pela população em geral, que apóiam as iniciativas truculentas da polícia nas favelas. Às vezes apoiados também, pelos próprios moradores da favela, embora só querendo ser diferenciados dos traficantes. Mortes e violências ocorridas nestes territórios, em comparação a outros locais mais privilegiados, têm tratamentos diferenciados.

A morte de um favelado principalmente quando ocorrido na favela com relação a outros casos de morte e violência ocorridos em outros espaços, ou segmentos sociais, é vista como sequência do cotidiano e não um mal a ser erradicado. A visibilidade e a repercussão dos casos são tratados de formas distintas. Uma morte ou caso de violência na favela faz parte do cotidiano daquele povo, tornando-se assim episódios corriqueiros e logo são naturalizados por toda a população e até mesmo por moradores das favelas. É como se a cidade fosse duas cidades. De um lado a população totalmente marginalizada, vista como “inimigos próximos” (Fridman) totalmente invisíveis e esquecidos, ao resto da população. Por outro lado, quando essas mortes são em locais mais privilegiados o agir é imediato, tanto na prevenção quanto na definição do caso, é tratado severamente.

Nesse processo de banalização da Violência que por conseqüência alguns desses acarretam em mortes. É um processo que toma toda a sociedade como refém, do medo e da insegurança e assim “permite que de certa forma encarem o cotidiano de violência e morte por vezes necessária se vier por parte de órgãos públicos, como solução aos tempos vividos de incerteza e medo11”.


Considerações Finais/ Conclusões.

Neste trabalho, tivemos como pretensão uma análise sobre a questão da banalização da morte em dois períodos distintos no Rio de Janeiro. O primeiro na década de 50, com a escolha do filme (Rio 40º) por abordar questões sociais que ainda encontram-se presentes na sociedade. Já o segundo, no documentário, (Entre Muros e Favelas) o Rio de Janeiro é mostrado como uma cidade marcada por chacinas e mortes, já apresentando o Rio do fim do século XX, e início do XXI, modernizado, mas trazendo a tona à fala dos moradores sobre suas percepções á respeito da violência, e de especialistas sobre esse assunto.

Uma proposta presente no filme e no documentário, e bem ressaltada durante o trabalho, é a de que a morte acontece e a vida assim prossegue e “assim deve ser12”. Por isso a escolha de falar sobre banalização da morte, que assim percebemos a partir desta ótica, devido à morte ser retratada e apresentada de forma banal dentro de um contexto de violência urbana. Não deixando de fazer um paralelo entre os dois períodos, da cidade do Rio. Assim um paralelo com o que ocorre hoje, e como já era tratado na década de cinquenta, por isso falamos da aceleração do processo de banalização da morte e da violência.

Esse debate de banalização da morte, e também da banalização da violência, é levantado aqui neste trabalho como relevante para análise do cenário sócio-cultural brasileiro. Assim poderíamos dizer que a banalização aqui é trabalhada, em consideração principalmente da visão da sociedade em relação às mortes e violências ocorridas dentro das favelas, e também nos locais privilegiados da cidade, onde os principais protagonistas são os moradores de favelas. Sendo estes também os mais atingidos por uma ação violenta que pode levá-los á morte. Não desconsideramos que a violência atinja todos os segmentos da sociedade, mas é notório que a população favelada, negra e pobre encontram-se num estado maior de vulnerabilidade com relação á insegurança e violência urbana, vive sob um triplo cerco, que segundo a análise de Fridman, “Não podem partilhar do sonho de paz nem garantir seus direitos frente á ação da polícia13”.
O estado de vulnerabilidade pode ser ilustrado a partir do que Fridman aponta como viver sob um triplo cerco:

“..dos traficantes que dominam seus locais de moradia, da ‘permissão para matar’ que pode se manifestar em formas ‘mais brandas’ da opressão cotidiana do tratamento permanente de ‘gente sob suspeita’) e da mentalidade que ergue contra ele os muros simbólicos do desapego, do não-reconhecimento e da ausência de pontes e de diálogo que façam o problema pertencer a todos.”

Por concluinte, pensar na prevenção de mortes na sociedade carioca dos dias atuais é pensar em paradigmas, não tão fáceis de serem erradicados, mas por outro lado, não tão impossíveis de trazê-los para uma arena de agenda pública mais efetiva. Se as mortes acontecem de formas diferenciadas nas favelas em comparação as da cidade, é sinal que a indícios de que a tão falada “cidade partida14”, ainda é relevante no século XXI. Século esse, que deve trazer as discussões sobre a cidade no dia-dia da própria, sendo levadas em conta as diferentes falas, em pesos iguais. Tanto as dos moradores de favelas, assim como as dos moradores das classes mais abastardas e demais locais da cidade. Pensar dessa forma é pensar numa arena política, em que o coletivo sobressai ao localismo de escassos atores privilegiados, no cenário da cidade metropolitana.











Referências Bibliográficas e
Matérias Afins.

Luiz Antonio Machado da Silva (Organizador). Vida Sob Cerco. Violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Capítulos, 3, 4, 5. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S. A, 2008.

Clifford Geertz, A Interpretação das Culturas. Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura. ZAHAR EDITORES. Rio de Janeiro
.
Dos Santos Nelson Pereira. Rio 40º Graus. 1955.


Farias Juliana. Entre Muros e Favela. 2004.

Ventura Zuenir. “Cidade Partida”. São Paulo, Companhia da Letras. 1994.