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segunda-feira, 4 de abril de 2011

A expressão de um “Grito” excluído.

7 de setembro de 2010 fez 188 anos que a Colônia se tornara independente de sua Metrópole, e com esta independência, desprendia-se um gigante país que até então era Colônia que sustentava uma corte fadada ao abismo das exacerbações, dos desperdícios e dos excessos de extração de matéria prima ao longo de três séculos de exploração. Entretanto, deixava um saldo negativo muito grande na sua antiga colônia, um sistema escravocrata, uma sociedade marcada pela violência, venda de seres humanos, sendo estes, tratados feitos bichos, que só diminuirá depois de 66 anos de sua independência, com a abolição da escravidão em 1888, que pelo menos no papel, mesmo que na prática não se realizasse com tanta eficácia, ajudou a inibir os absurdos causados aos negros que com muito sacrifício ajudaram a construir esse país, além de ser a cultura que intermediava nos conflitos entre a cultura indígena e a européia, que expressada por Gilberto Freyre, à miscigenação ganhara ênfase na literatura internacional.

“Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade como já salientamos às primeiras páginas deste ensaio, um processo de equilíbrio de antagonismo. Antagonismo de economia e de cultura. A cultura européia e a indígena. A européia e a africana. A africana e a indígena”

Entretanto, passado 188 anos da independência do Brasil, pouco tem a comemorar a sociedade brasileira ainda é racista, preconceituosa e marcada pela desigualdade social. Expressa-se em pleno século XXI a legítima contradição entre o que as autoridades governantes prometem, e o que elas cumprem. Por consequência, em meio ao desfile cívico da independência expressado pelas forças armadas, polícia militar, civil, além do corpo de bombeiros, guarda municipal entre outras autoridades presentes nessa cerimônia, ouviam-se gritos de revolta, vozes contra o descaso das autoridades governantes para com a sua população, eis que surge “O grito dos excluídos” que na verdade já está na sua 16º edição, lutando por justiça social, moradia, saúde, educação de qualidade e dignidade para população.

Um grito, que pelo menos no Estado do Rio de Janeiro, se revolta com o excesso de abuso, diga-se de passagem, que o abuso em si só já é ilegal, estes vem ocorrendo com muita freqüência, para com os moradores de favelas, movimentos sociais, e a camada mais pobre da população. Se expressa um grito por justiça, por igualdade de condições, por melhor educação.

Por conseguinte, a cara do grito não tem cor, religião, muito menos opção sexual, mas todos esses tem um objetivo em comum, trazer para discussão política a abertura de uma arena de discussão, e com maior participação do Estado como garantidor dos direitos sociais básicos de sobrevivência para a população. Direitos esses como educação de qualidade, alimentação, moradia, saúde para todos e não a inibição do Estado nessas questões sociais, deixando a responsabilidade nas mãos da sociedade civil. Evelina Dagnino, em seu artigo (Confluência perversa, deslocamento de sentido, crise discursiva), expressou que, pós Ditadura Militar a sociedade civil passou a reivindicar com maior frequência melhores condições de vida, discussão política e eleições diretas para as esferas políticas, e o Estado como garantidor das questões sócias anteriormente mencionadas, entretanto, salienta a própria depois da eleição de Collor em 89 para Presidente o Estado passou a atuar restringindo sua ação de garantidor das questões sociais básicas de sobrevivência, atuando como estado mínimo que faz parte de um projeto neoliberal.

“Por um lado, a constituição dos espaços públicos representa o saldo positivo das décadas de luta pela democratização, expresso especialmente-mas não só pela constituição de 1989, que foi fundamental na implementação destes espaços de participação da sociedade civil na gestão da sociedade. De outro lado, com a eleição de Collor em 1989 e como parte da estratégia do Estado para a implementação do ajuste neoliberal, há a emergência de um projeto de estado mínimo que se isenta progressivamente de seu papel de garantidor de direitos, através do encolhimento de suas responsabilidades sociais e sua transferência para a sociedade civil”.

Portanto, como afirmou Evelina no seu artigo, o Estado se desfaz da sua responsabilidade social deixando esta por conta da população, embora as análises feitas por Evelina discutirem o contexto nacional os estudos feitos pela mesma se aplicaria com toda clareza e perfeição ao Estado do Rio de Janeiro, onde o descaso público para com a sua sociedade, ou pelo menos em grande parte da população, sendo esta tratada de forma violenta e cada vez mais excludente, afastando a população pobre dos grandes centros comerciais e palcos de grandes eventos que estão a caminho, por exemplo: Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, recebendo grande capital estrangeiro. Esses eventos servem para ratificar a violência que o Estado vem cometendo principalmente nas favelas cariocas que estão dentro de um “Olhar de raio prioritário ”, amontoando policiais ditos pacificadores, que abusam dos moradores, aplicando toque de recolher, lei do silêncio, inibindo o funk e frustrando a perspectiva de um projeto de segurança que abrange questões sociais mais complexas, e não somente a substituição de bandidos por policiais fortemente armados.

Por concluinte, 7 de setembro de 2010, fez-se um “Grito” por liberdade, por moradia, por dignidade, por saúde, educação, trabalho digno e para que não tenha mais “violência tanto simbólica, física quanto psicológica”. Um grito que em meio a um desfile cívico, expressou sua força representada por vozes excluídas da nossa sociedade, rostos novos, velhos e os que nem maldades têm, mas que já sofrem com a pobreza, desigualdade social e falta de perspectiva de um futuro melhor. Um grito que se cala nas escritas de um universitário que descontente com a realidade em que vivemos, escreve esse artigo como expressão de luta, revolta e indignação, e que com os versos fantásticos de Hebe Bonafini, encerra o discurso com um grito de luta, e um silencio na escrita.

“Aos que morreram não dedico nenhum minuto de silêncio, e sim, toda uma vida de luta”

Autor do Artigo: Wagner Maia da Costa.

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